Uma parte do Brasil acordou, outra parte já tinha acordado


Quem acordou agora? O gigante? Sim, o gigante. O gigante que sempre foi manipulado pela política da cultura de massas do PiG. Não foi o Brasil que acordou porque o Brasil estava acordado há muito. Esquecemos da ditadura que vencemos com resistência? Esquecemos dos grupos de guerrilha, da ALN, do MR-8? Esquecemos de nossa resistência aos Estados Unidos? Esquecemos que a UNE estava nesse processo todo? Esquecemos que a UNE derrubou um presidente? Esquecemos os mortos do Araguaia? A liga de camponeses, o MST? 

Nossas práticas políticas até podem falhar, mas nossa memória jamais. Quem está acordando é um outro Brasil, aquele manipulado pelo próprio PiG que agora ou lhe ataca ou lhe atenua, de acordo com o jogo da extrema-esquerda do PSTU e PSOL e com a extrema-direita do PSDB e DEM. Hoje essas pessoas acordam, mas sem bandeiras de luta definidas, sem a ideologização do óbvio- elas continuarão a ser exploradas pelo discurso do óbvio- o capitalismo. Não é contra o capitalismo que elas lutam, é contra o aumento da passagem, é contra a corrupção apenas. Elas não reconhecem que o problema está na base epistêmica do processo que faz ruir o todo.

E reconheço nesse processo todo uma falta de bandeiras organizadas. Há movimentos independentes que nem se reconhecem como membros da luta de classes, essa incansável batalha contra o capital, contra a maré. O gigante talvez até tenha acordado, mas é preciso reunir as pautas, negociar e lembrar sempre de nossa história de vitórias nos movimentos sociais.

A pauta das manifestações contra o aumento da passagem é justíssima, talvez uma das mais justas dos últimos anos. Porém, os manifestos esquecem a subsunção do trabalho, a mais-valia, a globalização, a ideologia da competência e, por conta disso, podem até ter como objetivo um horizonte que nem exista. O gigante voltará a dormir se não souber o que quer. A cidade será sitiada e apenas à guerra civil ou a um novo regime (de militares) chegaremos se não soubermos fazer o melhor uso da democracia. O movimento precisa tomar uma bandeira de luta- a bandeira contra a desigualdade. 

Receio, no entanto, que esse movimento jamais enxergue o gigante que jamais dormiu- o capitalismo.


Por Gabriel Nascimento