Por que odeiam tanto os partidos políticos?



        Por que os manifestantes odeiam tanto os partidos políticos nos protestos? Tem tucano nesse mato. Por que tanta violência com quem ergue uma bandeira, quem veste uma camisa de seu partido? Porque as pessoas ainda não entenderam o porquê da democracia.
        O Brasil tem uma raiz tão colonial que a violência é um marca dos dois lados: do opressor e do oprimido. E o oprimido quer ser opressor. É assim que agem os que estão reprimindo partidos políticos. E reprimem porque não entendem nosso atual sistema político.
        Herdeiro da ditadura militar e de todo autoritarismo do Brasil, nosso sistema político nos leva a contradições. O mandato, senhores, não é do partido, é da pessoa. O partido pode até exigi-lo diante de infidelidade, mas em casos bem raros, como troca de legenda. Logo, não há razão para impedir a entrada de partidos políticos no protesto. As pessoas não sabem, ao que parece, a diferença entre Estado e Governo, sendo o primeiro a instituição máxima e permanente que pode dar sustentáculo ao exercício da cidadania num regime democrático de direito e o segundo aquele constituído pelo sufrágio popular, ou seja, pelo voto e que pode ser destituído pelo mesmo. Essas mesmas cabeças reacionárias que estão impedindo partido político esquecem que foram os partidos políticos (da esquerda) que tanto lutaram para que a democracia fosse uma realidade. Foram organizações partidárias que resistiram à violenta ditadura militar nos anos de chumbo.
       Ora, essas pessoas também não sabem a diferença entre partido e mandato. O mandato é de quem foi eleito e não do partido. Logo, mesmo que fulano seja de um partido A ou B, ele pode tomar decisões sem consultar o partido, desde que não haja dispositivo para sua destruição. Isso quer dizer que, na verdade, não são os partidos que tomam as decisões, mas os sujeitos eleitos. Isso quer dizer também que só é obrigado a ser filiado a um partido político porque é preciso ter formação política, em tese, antes de se candidatar. Ou seja, os partidos só servem para bandeiras históricas em nosso sistema contraditório. Uns querem democratização do ensino, outros querem cortar impostos etc. Assim, todos têm bandeiras políticas que podem ou não influenciar o político daquele partido que conseguiu se eleger. O partido é uma coletividade e, como tal, deve ser respeitado. É uma instituição da sociedade civil organizada. O não respeito a ele é ANTIdemocrático. A violência para com ele é uma CONTRADIÇÃO de quem tanto quer transporte público de qualidade.
        Entendo que as manifestações em torno do transporte público de qualidade devam ser apartidárias, mas não ANTIpartidárias. Isso é atropelar a própria democracia que defendemos. É preciso que haja pessoas de partidos diferentes na avenida e que haja pessoas de nenhum partido. É preciso a pluralidade. Precisamos é de um movimento autônomo diante dos partidos, não independente. Toda independência pode até ser programática, mas nunca é ideológica. Qualquer movimento democrático que queira provocar mudanças deve passar pela esfera do poder. E para chegar lá só através de eleição. E para se candidatar só através de um partido.
       E assim espero que continue o movimento: Apartidário, mas não ANTIpartidário, para que a mesma violência que cobramos no opressor não seja exercida pelo oprimido.



Por Gabriel Nascimento