"Ah, mas o
socialismo quer que todo mundo seja igual". Não, o socialismo não quer que
todo mundo seja igual, mas que todos tenham condições iguais. Ofertar condições
quer dizer oportunidade para o sujeito em sua condição de existência. Ora, nenhum sistema que se proponha
socialista pode deixar a diversidade, a diferença entre os sujeito, mas o modo
como o sistema de classes divide os sujeitos, sendo que no status quo alguns
dominam e outros são dominados.
"Mas assim vocês
querem acabar com as classes". Com a ideia de classes imposta no sistema
capitalista sim. É por si só desigual, antidemocrática. O sistema socialista
quer acabar mesmo é com a concentração: a concentração de renda, a concentração
fundiária, a concentração da propriedade dos meios sociais de produção, a
mais-valia... as classes, no sentido de categoria, de um modo geral, sempre vão
haver. Não as classes do capitalismo.
"Mas isso quer
dizer que se um sujeito tiver um carro o outro vai ter que ter..." Não,
man. O socialismo se baseia em igualdade de condições, não em imposição de
condições. Todos têm que ter condições
de existência, todos têm que ter oportunidade, mas se haver oportunidade de
comprar um carro para um deve haver para todos. O que queremos é socialização
dos meios sociais de produção que, atualmente, é propriedade de uma elite, de
uma burguesia, de algumas poucas pessoas que compõem a classe dominante. Ora,
democratizar, socializar é dar acesso. Ao dar acesso nem sempre todos os
sujeitos vão aderir.
O socialismo não quer o
fim da propriedade privada, mas o fim da concentração, o fim da mais-valia, do
super lucro, da banalização da força de trabalho.
“Mas, e os
trabalhadores? Vão ganhar a mesma coisa, então... um zelador vai ganhar a mesma
coisa que um professor”.
Ora, bati eu o martelo,
nenhuma forma de socialização dos meios sociais de produção quer isso. A valorização
das profissões deve haver sempre. O que não se quer é que, mesmo que uma pessoa
tenha decidido, a partir das condições de existência, a partir das
oportunidades dadas, não estudar, ela viva em sub-humanidade, em subexistência.
Quem quer fomentar subexistência é o capitalismo. Ao socializar os meios
sociais de produção eles são democratizados. É o acesso que é democratizado.
Mas, mesmo que um sujeito não queira ter acesso, não é por isso que ele tem que
ser vitimizado com falta de saneamento básico, de educação, saúde e segurança.
Ora, mais uma vez, quem faz isso (e faz bem!) é o capitalismo. Entendo que,
para um novo socialismo, tem-se que discutir o papel do acesso, o papel do fim
da concentração de renda, fundiária, do poder de decisão do poder privado na
esfera pública, nos fóruns de decisão, na esfera estatal, nos movimentos
sociais. Enquanto isso houver, a situação é sofrível. O que não pode é, por ser
um zelador e por não ser doutor, o sujeito seja humilhado, receba um subsalário
como é o caso do capitalismo.
Na esfera do mínimo, o
socialismo baseia-se na dignidade. Todo sujeito tem que ter condições de acesso
e dignidade. Na esfera do máximo, o sistema socialista se pauta sobre o fim da
concentração, para que aos seus pares o mínimo funcione. Enquanto houver
concentração, não vai haver democratização. Mesmo quanto às profissões, alguns
super salários precisam ser regulados enquanto os subsalários revistos.
Não se quer acabar com
a propriedade privada, mas o efeito que a concentração dela na mão de alguns
faz na esfera pública. É só olhar pro trânsito, todo mundo acha que está em
casa, pise quem pisar. “Eu estou no MEU carro, no MEU caminho, saí do MEU
trabalho e quero chegar na MINHA casa”. É o maior sintoma da interferência da
esfera privada na esfera pública, encolhendo-a.
Em conversas por aí.
ADAPTADO DO ORIGINAL.
Gabriel Nascimento dos
Santos