O Brasil é um país atrasado por
excelência. Alarmante é procurar entender por que o Brasil, sendo ex-colônia
europeia e tendo a colonização como um de seus fantasmas, tem uma elite que
pensa que vai acabar com a miséria eliminando o pobre, que vai acabar com a violência
com força policial e que não abre mão dos privilégios. O pobre, de mesmo modo,
é a favor do uso de tropas para acabar com greves, é contra os movimentos
sociais e acredita na ordem posta. Em pauta agora na mente reacionária
brasileira a redução da maioridade penal.
É
que o Brasil é por excelência colonial. Pós-colonial de segundo nascimento
(porque a colonização institucionalizada chegou ao fim), segue sempre à risca o
que há de pior e conservador em países mais capitalistas, inclusive a corrupção
(é a ditadura não nasceu no Brasil!). Nossa ditadura, nosso estado autoritário,
as práticas de privilégios, os jeitinhos, tudo isso sobrevive e reina na
terrinha. O jeitinho não para nos cabides de empregos, no patrimonialismo, na
confusão da coisa pública e no fisiologismo e pragmatismo dos partidos: está também
na necessidade de, ao invés de investir em educação, saneamento básico, saúde e
cultura, reduzir a maioridade penal. É a força policial que está em jogo nessa
mente reacionária. Chego a me assustar ao assistir parlamentares brasileiros,
de partidos que apoiaram a ditadura militar como o DEM e o PP, no uso de suas
atribuições de buscar um Brasil para o amanhã, discutir e defender
veementemente tal retrocesso na sociedade brasileira.
Ora,
reduzir a maioridade penal é fácil, rápido e eficiente. Não dói para a elite e
ainda dá para fingir, com um bom uso de vaselina, que nos presídios e
penitenciárias cabem todos esses miseráveis pobres, sem oportunidades, marcados
pelos sistemas de exclusão e abandono do Estado. Ele são os órfãos do Estado, filhos
de mães solteiras e de pais igualmente excluídos pela história. É realmente
muito fácil pensar assim. Difícil é se juntar aos movimentos sociais e lutar,
como historicamente luta a UNE, e UBES e demais entidades, pela expansão do
ensino superior. A conta fica mais difícil para os setores conservadores deste
país colonial. Em um momento histórico de aprovação no Senado do Estatuto da
Juventude, que prevê políticas públicas para tirar a juventude da
criminalidade, discutir a redução da maioridade penal só pode ser pauta para
pessoas com má fé ou falta de conhecimento sociológico, demográfico e social. É
mais fácil amontoar jovens, pretos em sua maioria, homens em sua maioria, em
penitenciárias medievais. Investir em professor sai mais caro, sai mais caro
investir em educação. É o próprio estandarte da ditadura militar sendo hasteado
na cabeça conservadora da sociedade brasileira. Marcos Feliciano que comemore,
eu nem vou me dar ao trabalho de imaginar...