Esquerda ou Direita, Centro ou Fora? Ilusões na democracia multipartidária

Publicado no Jornal Diário de Ilhéus em 11 de outubro de 2012 Veja mais publicações em jornais


            Existem alguns entusiastas confusos na democracia construída de qualquer forma do Brasil. Quem construiu diretamente os ditames dessa democracia aí fora foram as elites coloniais e viciadas por vantagens e privilégios deste país. Foram elas que estiveram no banco do legislativo, ou sendo juristas e ainda são elas que ainda julgam e condenam pelos princípios da democracia que elas próprias ditaram. Foi mais ou menos assim: os ditos partidos de “Esquerda” lutaram para que a democracia fosse acontecimento, mas o próprio boicote da mídia, a própria força motora da burguesia bicuda e conservadora fez com que os vícios adentrassem esse sistema democrático em que vivemos.
            Daí pode vir a miragem, a ilusão de ótica de alguns de que não existe mais Esquerda ou Direita no Brasil. Provavelmente, essa não deve ser a discussão mais relevante em tempos na filosofia pós-racionalista contemporânea, em que heróis, líderes e deuses importam menos quando pregam discursos cada vez mais utópicos. Mas, para esses que acham não existir Esquerda, lá vai uma mensagem de suma importância: ainda existe o conflito de classe. Ainda persiste a mesma burguesia colonial unida, com sentimentos de coronéis fracassados por suas monoculturas e seus impérios de areia, os quais estão vendo novos ventos sem poder extirpá-los, como defensores que são de um plano neoliberal que privatizou às cegas de qualquer jeito bilhões de dólares das empresas públicas brasileiras por quase nada e deu ao capital estrangeiro oportunidade de explorar sem alguma regulamentação. O que comprova a existência, não somente das dicotomias, do que devemos nos desligar, mas da realização de um sentido Direita – Esquerda pode ser entendido dentro do conflito de classes. A burguesia continua a mesma, entrando na justiça contra as cotas, atacando o Bolsa Família, pois não pode mais escravizar qualquer pobre, odiando todos os ventos dos movimentos sociais. O grande problema vem da Esquerda: segundo os mais céticos e que se diziam militantes dessa Esquerda, esta se encontra prostituída. Esse é o sintoma do multipartidarismo mercadológico, das campanhas financiadas pelo dinheiro privado, etc. Isso não exclui o caráter de partido (+ Esquerda), ao contrário daqueles que sempre defenderão privilégios da burguesia unida.
            Esses são os discursos de todos aqueles que se sentem mais atraídos pela beleza dos partidos de Direita: “Não existe Esquerda...”. Seria como ouvir: “Acabou o conflito de classes no Brasil”. Acabou? A Direita nunca se calou, desde condenar sem provas, antes do julgamento com grampo falso, caluniar em seus veículos de informação (hoje conhecidos como PIG- Partido da Imprensa Golpista- ao qual não se filia este veículo) personagens que lutaram e continuam lutando contra a centralização selvagem que sempre explorou no Brasil, sediando-se em São Paulo- Rio, até uma arrogância ininterrupta que impede, dentre outros motivos, a Reforma Agrária. Por isso o ex-presidente Lula é alvo. Nordestino, operário, de educação não universitária, não foi fácil para as nossas elites mal acostumadas engolir o sapo barbudão. Parar a era das privatizações feitas a facão, da crise de matriz energética, dos programas sociais fantasmas foi a gota d’água. E Lula parou, pois não queria o bico do FMI e dos grandes Blocos de poder aqui dentro. Hoje, com métodos um tanto nazistas algumas vezes, muitas vezes criticando arduamente o Nordestino, eles atacam impiedosamente o Governo que matou a fome de mais de 25 milhões de pessoas da linha da pobreza, que deu crédito ao pobre mais pobre, que criou a maior quantidade de empregos formais da história, mas que não abriu o mercado para o megainvestidor desse capitalismo virtual, que derrubou, em sua ousadia neoliberal Estados Unidos e Europa.
            Coligação e aliança não representam o fim da esquerda, representam novos lócus dessa esquerda. Só não dá pra coligar com os algozes, e quando isso acontece tem-se em mente a seguinte válvula de escape: não pode com as elites falidas, finja se juntar a elas, ao menos para ludibriá-las. Em alguns casos isso aconteceu no Brasil. Um grande exemplo foi quando o Lula se juntou ao PMDB e ao PP, bem como diversos outros partidos conservadores, para se eleger presidente, mas em seu governo não abriu mão de transformações sociais imprescindíveis. Toda essa argumentação não exclui a existência de parasitas: eles estão em todos os lugares. São sempre convenientes, lenientes e conformistas.
            Esse discurso de fim da esquerda é bastantemente alimentado por nossas elites quatrocentonas, exploradoras, rentistas e viciadas. Isso porque elas fomentam mesmo é o clientelismo, querem fazer acreditar o operário que ninguém mais luta por ele, mas elas não se predispõem a fazê-lo. Não estariam essas elites tentando nos convencer de que somos filhos sem pais, mesmo à luz de uma transformação radical na estrutura social, demográfica e econômica brasileira nos últimos anos, desde o Governo Lula até o Governo Dilma? Não devemos nos conformar com tais transformações, mas negá-las é negar a história. Isso nem Michel Foucault fez, em termos de arqueologia do saber e microfísica do poder. 


Por Gabriel Nascimento