Existem alguns entusiastas confusos na democracia construída de qualquer forma do Brasil. Quem construiu diretamente os ditames dessa democracia aí fora foram as elites coloniais e viciadas por vantagens e privilégios deste país. Foram elas que estiveram no banco do legislativo, ou sendo juristas e ainda são elas que ainda julgam e condenam pelos princípios da democracia que elas próprias ditaram. Foi mais ou menos assim: os ditos partidos de “Esquerda” lutaram para que a democracia fosse acontecimento, mas o próprio boicote da mídia, a própria força motora da burguesia bicuda e conservadora fez com que os vícios adentrassem esse sistema democrático em que vivemos.
Daí pode vir a miragem, a ilusão de ótica de alguns de que não existe mais Esquerda ou Direita no Brasil. Provavelmente, essa não deve ser a discussão mais relevante em tempos na filosofia pós-racionalista contemporânea, em que heróis, líderes e deuses importam menos quando pregam discursos cada vez mais utópicos. Mas, para esses que acham não existir Esquerda, lá vai uma mensagem de suma importância: ainda existe o conflito de classe. Ainda persiste a mesma burguesia colonial unida, com sentimentos de coronéis fracassados por suas monoculturas e seus impérios de areia, os quais estão vendo novos ventos sem poder extirpá-los, como defensores que são de um plano neoliberal que privatizou às cegas de qualquer jeito bilhões de dólares das empresas públicas brasileiras por quase nada e deu ao capital estrangeiro oportunidade de explorar sem alguma regulamentação. O que comprova a existência, não somente das dicotomias, do que devemos nos desligar, mas da realização de um sentido Direita – Esquerda pode ser entendido dentro do conflito de classes. A burguesia continua a mesma, entrando na justiça contra as cotas, atacando o Bolsa Família, pois não pode mais escravizar qualquer pobre, odiando todos os ventos dos movimentos sociais. O grande problema vem da Esquerda: segundo os mais céticos e que se diziam militantes dessa Esquerda, esta se encontra prostituída. Esse é o sintoma do multipartidarismo mercadológico, das campanhas financiadas pelo dinheiro privado, etc. Isso não exclui o caráter de partido (+ Esquerda), ao contrário daqueles que sempre defenderão privilégios da burguesia unida.
Esses são os discursos de todos aqueles que se sentem mais atraídos pela beleza dos partidos de Direita: “Não existe Esquerda...”. Seria como ouvir: “Acabou o conflito de classes no Brasil”. Acabou? A Direita nunca se calou, desde condenar sem provas, antes do julgamento com grampo falso, caluniar em seus veículos de informação (hoje conhecidos como PIG- Partido da Imprensa Golpista- ao qual não se filia este veículo) personagens que lutaram e continuam lutando contra a centralização selvagem que sempre explorou no Brasil, sediando-se em São Paulo- Rio, até uma arrogância ininterrupta que impede, dentre outros motivos, a Reforma Agrária. Por isso o ex-presidente Lula é alvo. Nordestino, operário, de educação não universitária, não foi fácil para as nossas elites mal acostumadas engolir o sapo barbudão. Parar a era das privatizações feitas a facão, da crise de matriz energética, dos programas sociais fantasmas foi a gota d’água. E Lula parou, pois não queria o bico do FMI e dos grandes Blocos de poder aqui dentro. Hoje, com métodos um tanto nazistas algumas vezes, muitas vezes criticando arduamente o Nordestino, eles atacam impiedosamente o Governo que matou a fome de mais de 25 milhões de pessoas da linha da pobreza, que deu crédito ao pobre mais pobre, que criou a maior quantidade de empregos formais da história, mas que não abriu o mercado para o megainvestidor desse capitalismo virtual, que derrubou, em sua ousadia neoliberal Estados Unidos e Europa.
Coligação e aliança não representam o fim da esquerda, representam novos lócus dessa esquerda. Só não dá pra coligar com os algozes, e quando isso acontece tem-se em mente a seguinte válvula de escape: não pode com as elites falidas, finja se juntar a elas, ao menos para ludibriá-las. Em alguns casos isso aconteceu no Brasil. Um grande exemplo foi quando o Lula se juntou ao PMDB e ao PP, bem como diversos outros partidos conservadores, para se eleger presidente, mas em seu governo não abriu mão de transformações sociais imprescindíveis. Toda essa argumentação não exclui a existência de parasitas: eles estão em todos os lugares. São sempre convenientes, lenientes e conformistas.
Esse discurso de fim da esquerda é bastantemente alimentado por nossas elites quatrocentonas, exploradoras, rentistas e viciadas. Isso porque elas fomentam mesmo é o clientelismo, querem fazer acreditar o operário que ninguém mais luta por ele, mas elas não se predispõem a fazê-lo. Não estariam essas elites tentando nos convencer de que somos filhos sem pais, mesmo à luz de uma transformação radical na estrutura social, demográfica e econômica brasileira nos últimos anos, desde o Governo Lula até o Governo Dilma? Não devemos nos conformar com tais transformações, mas negá-las é negar a história. Isso nem Michel Foucault fez, em termos de arqueologia do saber e microfísica do poder.