PASSAGEM DE ÔNIBUS EM ILHÉUS- como justificar arbitrariedade na concessão?


Passagem custará a partir de agora R$ 2,40

       

        Há um problema ontológico, se não melo-ontológico na concessão de transporte público na cidade de Ilhéus. Desde o pagamento de precatórias às empresas de ônibus e o não reajuste que onerou as contas da prefeitura, herança do prefeito de Ilhéus à época, o coronel Jabes Ribeiro, até um reajuste no ano de 2012 que, além de intransigente, mal editado e ébrio, é cheio de uma configuração da política falsa e meritocrática do “favor” e da amizade no âmbito municipal.
            Com essa provocação estudantes secundaristas e universitários de muitas entidades (DCE, grêmios, movimentos independentes, etc.) protestaram na semana passada por causa do aumento da passagem em Ilhéus para R$ 2,40 (dois reais e quarenta centavos), 6% acima da inflação. Arbitrariedade? Contas suspeitas? Deu a louca no poder legislativo de sancionar tamanho equívoco? Há algo errado nessas contas. Olhai por nós, Ministério Pùblico! Das justificativas do pedido de reajuste encaminhado ao Conselho de Transporte, e engolido por este, apesar da resistência dos membros representantes das entidades estudantis, estão as gratuidades. As gratuidades são sustentadas pelas próprias contas do município, ao que se sabe, como é o caso da meia-passagem para estudantes. A gratuidade para idosos é explicável através do argumento que essa categoria é feita de pessoas que não são trabalhadores ativos, e que, em sua maioria, não utilizam o serviço de transporte com a mesma frequência dos demais usuários.
Por outro lado, se a argumentação não-sólida das empresas de ônibus advogam sua solicitação por causa do serviço de mototáxi, cabe à empresa participante da concessão rever a sua logística. Ainda encaminhamos, como sugestão, aos poderes legislativo e executivo da cidade de Ilhéus, e ainda aos olhares do judiciário e Ministério Público, que se atentem à questão seguinte: se Ilhéus concede a exploração do serviço de transporte público a uma empresa privada, argumentos de custo de combustível não podem entrar como peso nas decisões de aumento de preço do valor do transporte. Esse é um problema eminente da logística da empresa. Entretanto, já que a política do “favor” e da boa amizade (para não dizer “bom senso”, essa palavra das brechas jurídicas positivistas) protegem tais interesses, que o legislativo e o executivo voltem seus olhares para a construção de estações ou terminais que deem conta da frota, demanda etc. E o transbordo? Por que a nossa assembleia não gasta algumas horas discutindo esse assunto, que poderia ser mais rico do que algumas de suas tautologias. Essa parece uma discussão infindada e infindável em uma cidade em que coronéis e empresários são tão amigos, almoçam juntos e são felizes para sempre.
Assim, parece que há algo de errado. Ou com o lobby capitalista no Conselho de Transporte, que não tem técnicos responsáveis e atentos à tabela enviada pela ATRANSPI (Associação das Empresas de Transporte de Ilhéus), ou com os nossos vereadores amigos do santo “favor” da gozada amizade do público com o privado, se misturando e se prostituindo, ou com o executivo, ainda mais namorador e amigo das bonanças. Como entender que a pequena cidade de Ilhéus tenha tarifa maior do que algumas capitais e cidades grandes? Como entender que, apesar do preço que infla o bolso do trabalhador formal, do estudante e do trabalhador informal, a qualidade do Serviço Inteligente de Transporte (SIT) de Ilhéus é péssima, mal organizada e sob os ditames do “favor”? Machado de Assis bem que poderia ressuscitar e passar umas férias em Ilhéus: veria a realização oportuna do comportamento político de muitos de deus romances. 
Nós, das entidades, membros da sociedade civil, continuaremos protestando contra esses cálculos fundamentados na absurda política do “favor” e da amizade do público com o privado do coronelismo ilheense que não cresce, mas vive do passado distinto e belo que, ainda bem, já passou e trouxe com sua ida uma universidade pública e outras possibilidades. Viva o fim do Império do Cacau, que só privilegiava essa ainda viva elite colonial. Quanto ao Serviço Inteligente de Transporte das empresas de ônibus coletivo de Ilhéus, vê-se bem que é inteligente mesmo!  


Gabriel Nascimento dos Santos
Coordenador-geral do Centro Acadêmico de Letras Prof. Ruy Póvoas da UESC
Editor-chefe do Grapiúba- o jornal dos alunos de Letras da UESC
Membro da Executiva Nacional dos Estudantes de Letras
Bolsista CNPq doprograma Iniciação Científica da UESC



Por Gabriel Nascimento