
Essa é uma homenagem para os que fazem cursos de licenciatura. A profissão professor está longe de ser tratada como mão-de-obra qualificada. Ser professor é pertencer à mão-de-obra barata.
Parece soar estranho dizer que um curso universitário leve o indivíduo à categoria de mão-de-obra barata e alguns de meus colegas e críticos vão achar estranha esta notícia. Vamos às premissas que suportam essa ideia. O que é a mão-de-obra barata? É aquela na qual ocorre mais profundamente a subsunção do trabalho, a mais-valia; é aquela em que se dá a exploração capitalista, e é, por fim, aquela categoria de trabalhadores que trabalha muito para ganhar pouco ou quase nada. Diante desse pressuposto o silêncio é o que mais se torna relevante. Na qualificação de cursos de nível superior os estudantes das licenciaturas entram em contato com teorias idealizadoras, superfantásticas, paradigmas perfeitos. É dura a quantidade de teorias que um graduando de uma licenciatura tem que estudar. E ao final, qual a maior gratificação? Trabalhar muito, em escolas sem um mínimo de infraestrutura, com alunos provenientes das áreas mais impossibilitadas, da periferia mais esquecida pelas práticas “igualitárias” de nossos governos e que, às vezes, chegam à escola famintos, tendo pai e mãe presos, com pedras de Crack no bolso e trazendo o sonho, como profissão, de entrar para a polícia, quando menos serem chefes do tráfico. O Governo Federal manda verbas, que são, na maioria das vezes mal administradas pelos municípios, quando não são desviadas. Tratar com alunos drogados e adolescentes grávidas não é o único dilema do sistema educacional, acreditem. No mais, o professor ainda leva trabalho para casa: provas e trabalhos precisam ser corrigidos.
Com toda a valorização que o Real teve até hoje o salário do professor da escola pública continua relativamente baixo. Lembrem-se, senhores, que essa é a educação básica, a alvenaria da educação brasileira. Na mão deles vão passar futuros médicos, advogados, jornalistas, economistas, engenheiros, revisores, tradutores, linguistas, professores... E os alunos vão ganhar mais que o pobre professor. E vocês sabem por quê? Porque vivemos em uma sociedade extremamente imediatista, que se importa com coisas a curtíssimo prazo. E os frutos do professor vêm com muitos anos depois. Enquanto o médico consegue salvar a vida de um paciente em uma hora (imediatamente!), ninguém lembra que foi nas aulas de Biologia, há alguns anos, que ele se apaixonou pelo ofício (não foi imediatamente que ele se tornou um médico). Uma empregada doméstica regularizada no Brasil (uma profissão tão importante como qualquer outra) ganha relativamente o mesmo tanto que um professor. Mas não é uma empregada doméstica que ganha muito, é o professor que ganha pouco. Não é de admirar que muitos jovens recém-graduados em uma licenciatura não optem pela sala de aula, e continuem seus estudos em programas de Pós-graduação, doutoramento e pós-doutoramento.
Parece que não adiantaram as políticas de valorização do professor. E sabem por quê? Porque, muito embora se especialize em sua área tanto quanto um médico na dele, ele não ganha bem, não trabalha em boas condições e ainda é considerado o maior culpado dessa UTI que está educação brasileira. Parece até irônico esse ser considerado “o profissional do futuro”. De qual futuro? Do futuro de quem? Mando um recado pra todos os professores de plantão: passem em concursos federais e larguem a educação básica. Isso não dá dinheiro! Professores de Português e Inglês: estudem para dar aulas em universidades, trabalhem como revisores e tradutores. Se toda mão-de-obra é reconhecida quando a demanda cresce e não é preenchida, essa é a única saída possível para um caos quase irresoluto.