O “KIT GAY” E A BANCADA RELIGIOSA: DUAS COISAS QUE NÃO DEVERIAM SE COMBINAR




                        Que o Brasil é um país altamente religioso não há sombra de dúvidas. Mas é preciso esperar que o projeto de um pacote do Ministério da Educação e Cultura (MEC) seja planejado que a gente de fato percebe tal religiosidade.

            Então, o alto executivo brasileiro não pode lançar tal projeto porque ele “fere a moral cristã”. Qual moral? Que cristianismo é esse? É aquele que julga um povo mais inteligente que outro (e por isso fomentou a escravidão, o genocídio nazista ou o Apartheid); por acaso é aquele que parte de princípios fascistas, falocêntricos, paternalistas, que ainda vê a mulher na condição do animal reprodutor, inconsciente que nasceu para ser passiva? Respondam vocês, senhores das bancadas religiosas do congresso. Vocês da mídia impressa, radiofônica e televisiva que criticaram profundamente o projeto. Mas vocês reconhecem que as bancadas religiosas ameaçaram o governo de convocar o Palocci e votar contra as propostas do governo na Reforma do Código Florestal se esse kit for aprovado. Quanta hipocrisia! É com esses acordos que eles conseguiram por fim a remoção de tal material de circulação.

            Vamos pensar em tal situação irrisória. A não circulação do material não vai evitar a homossexualidade nas escolas brasileiras. Pelo contrário, ela vai continuar existindo, tal como no tempo de Alexandre, O Grande. Esse assunto tem que ser tratado de forma séria, sem o palpite da religião. Política e religião são duas coisas absolutamente diferentes. A política não deve estar sob o olhar medieval, tradicional e fundamentalista da religião. Cansamos de tanto fundamentalismo. O Estado brasileiro é laico. Se tal pacote ou programa visa acabar com preconceitos sobre um grupo identitário isso não significa que o Governo está mandando que os jovens da escola pertença àquele grupo. Isso significa que o Governo quer que a escola cumpra seu maior papel em nossos tempos: promover o respeito ao próximo.

            Do mais é realmente preciso lembrar que o Brasil é um país laico, dominado por vertentes religiosas que, ora estão impedindo estudos sérios com células-tronco, ora estão tentando eleger presidentes que não toquem na legalização do aborto e casamentos de pessoas do mesmo sexo, ora tratando a opção sexual como uma doença e promovendo a censura a debates públicos sobre uma problema completamente relevante. Esse é um Estado laico que merece reavaliações, principalmente no que compete ao Art. 19 da Constituição Federal, porque Igreja e Estado estão se misturando rapidamente, com o aval dos próprios responsáveis pela constituinte.   

VEJA MAIS ARTIGOS DE POLÍTICA


Por Gabriel Nascimento