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O ano 2011 começou com a primeira mulher a chegar à presidência da república. O cargo mais importante do país agora está nas mãos de uma mulher. Que os leitores das escritoras feministas inglesas Mary Wollstonecraft e Virginia Woolf leiam esta matéria com êxito! Entretanto um fenômeno linguístico vem acontecendo com a ascensão da primeira mulher à presidência. Ela é “presidente” ou “presidenta”? Alguns se perguntam. Outros resolvem se vestir de consultores e ganhar dinheiro dizendo parvoíces.
O certo é que todos se perguntam. Enquanto a imprensa segue, na maioria das vezes, as prescrições da Gramática Tradicional, que surgiu há mais de 2 mil anos, escrevendo e falando “presidente”, os políticos da base governista insistem em falar e escrever “presidenta”. Fora de todos os modismos e prescrições, o mais interessante a analisar não é o correto, pois falar de língua e linguagem é algo tão sério quanto falar de aquecimento global. E dizer que este é mais correto que aquele é mentir, ou mesmo promover charlatanices e ser, sobretudo, anticientífico. Para a linguística, a ciência da linguagem, um vocábulo ou estrutura frasal estão corretos se são falados por um grupo. Fora dessas prescrições que imaginam os falantes como doentes e o gramático como o médico há algum tempo comunidades linguísticas vêm falando “presidenta” e vêm recebendo as críticas dos gramatiqueiros de plantão. O fenômeno da vez é que “presidenta” que antes era estigmatizada agora se torna normal. O substantivo, antes tomado como “comum de dois gêneros” (o presidente, a presidente) agora é pronunciado pela Dilma Rousseff como a presidenta. E ela, como qualquer outro falante, não está “falando errado”, ou cometendo “erro de português”.
Só que no caso dela acontece um fenômeno quase imperceptível. “Presidenta”, que antes só era falado pela parte pobre e sem instrução da população, agora entra no idioleto (conjunto de vocábulos, vocabulário) de Dilma, a mulher mais importante do país. A presidenta, como alguns críticos, pensa a gramática como machista. Homens e mulheres reunidos – o “correto” é “senhores” ou “senhoras”? E aí a prescrição- o “certo”, (como se a língua fosse uma religião) é “senhores”. Do mais, falar a linguagem da maioria de seus eleitores também é aproximar-se deles. Por isso, não é só porque a Dilma falou, mas também porque foi ela que falou, “presidenta” já pode ser considerado um dos eventos linguísticos importantes da nova década. A primeira “presidenta” do Brasil já chegou dando o que falar até mesmo no mundo científico.